O último dos Evangelhos, o de João, foi escrito para
doutrinar os novos convertidos. Não cita nenhuma
das parábolas de Jesus (afinal,
as parábolas já eram conhecidas no meio cristão, através dos relatos contidos
nos outros evangelhos), porém combate com firmeza as primeiras heresias surgidas
no princípio do cristianismo, como por exemplo: o gnosticismo (que
negava a verdadeira encarnação do
Filho de Deus) e outras seitas semelhantes,
que também negavam a divindade de
Jesus Cristo.
João
enfatiza a divindade de Jesus e longos discursos dele, foi escrito para gentios
e não narra o nascimento de Jesus.
Existem
supostas discrepâncias entre as narrativas dos evangelhos, mas elas são
facilmente solucionáveis. Alguns exemplos com suas hipóteses solucionadoras
seriam:
1. Genealogia de Jesus aparece apenas em Mateus e Lucas, mas não "bate" uma com a outra (Possivelmente uma seguiria a linha de José e outra a de Maria);
Mateus
pode ter sido escrito em aramaico, onde fica mais evidente que um José
mencionado é pai e não marido de Maria);
2. Sermão da Montanha aparece diluído exceto em Mateus (provavelmente Jesus ensinava repetidamente as mesmas coisas em diferentes ocasiões);
3. Ordem dos eventos não é a mesma (a literatura hebraica não necessariamente estava preocupada com narrativas em ordem cronológica, tanto que apenas Lucas se prontifica a fazer uma narração ordenada, coisa - aliás - que ele enfatiza duas vezes, deixando supor que um dos objetivos de ele ter escrito foi para colocar na ordem cronológica os eventos que estavam sendo narrados fora de ordem em outras fontes);
4. Narrativas da visita ao túmulo de Jesus não coincidem (provavelmente houve mais de uma visita).
Os
evangelhos canônicos (que estão dentro da Bíblia) foram escritos por
testemunhas oculares (fontes primárias) ou por pessoas que conviveram com estas
(fontes secundárias) no primeiro século.
Existem
também os evangelhos apócrifos ou pseudepígrafos (não contidos na nossa
Bíblia), eles foram escritos após o séc. II, por pessoas que não testemunharam
os fatos nem tiveram contato direto com testemunhas. Foram escritos por adeptos
da seita dos gnósticos e com muita licença literária (os autores assinaram,
como era usual na época, com nomes de outras pessoas; assim, p. ex., é certo
que o evangelho de Tomé foi escrito muito depois de Tomé ter morrido, o mesmo
se passando com o de Maria Madalena e assim por diante).
Já que
alguns episódios da vida e dos ensinos de Jesus aparecem também nas epístolas,
não seria incorreto dizer, lato sensu, que não apenas os livros
chamados "Evangelhos" fazem jus a esse nome. Em particular, a carta
aos Hebreus poderia bem ser vista como tal.
Características
de João
Seu estilo é simples. A maior parte dos termos
utilizados são palavras comuns, como
a estrutura é largamente assindética, com muitas repetições. Segundo algumas
avaliações, estas características tornam o texto cansativo para a leitura
parece que estamos distante da realidade.
Seu pensamento
é profundo. Provavelmente nenhum livro do Novo Testamento explorou tanto
este aspecto literário, se fala seguidamente sobre verdade, vida eterna,
renascimento para o alto, novo nascimento etc. Na leitura do texto somos
colocados em outra realidade, uma realidade espiritual.
Organização literária. O aspecto literário esta
muito bem arrumado. Temos um Prólogo (1.1-18) e um Epilogo (21), uma espécie de
quadro literária. No interior deste quadro literário encontramos as palavras e
obras de Jesus que nos leva aos fatos da Paixão de Jesus. Outra característica
encontrada é os sete sinais (milagres) em João, certamente escolhidos e depois
segue um discurso onde Jesus enfatiza sua mensagem. Podemos falar não de uma
diferença entre o evangelho de João e os sinóticos, mas de várias diferenças.
Expomos a seguir uma relação destas diferenças, elas poderão de ajudar no
estudo deste evangelho.
1 -
Diferenças quanto a Geografia ou Topográfica:
Os sinóticos desenvolvem a atividade de Jesus na
Galiléia, e depois Jesus e os discípulos indo para Jerusalém, onde acontece, os
fatos narrados na história da Paixão e morte de Jesus.
João coloca Jesus presente em pelos menos 4 festas
de preceito em Jerusalém (Páscoa, Dedicação)
E estava próxima a páscoa dos judeus, e Jesus subiu a
Jerusalém.
João 2:135,1;
João 2:135,1;
Mas, quando seus irmãos já tinham subido à festa, então subiu
ele também, não manifestamente, mas como em oculto.
João 7:10
João 7:10
No dia seguinte, ouvindo uma grande multidão, que viera à
festa, que Jesus vinha a Jerusalém,
João 12:12
João 12:12
mostra um Jesus que desenvolve muitas atividades na
região da Judéia. João quando fala da região da Galiléia fala em Cafarnaum, em
Caná, uma passagem pela Samaria, esta foi ignorada pelos sinóticos.
2 -
Diferenças Cronológica:
As narrativas que encontramos nos evangelhos
sinóticos, tem início com o prisão de João Batista
Jesus, porém, ouvindo que João estava preso, voltou para a
Galiléia;
Mateus 4:12
Mateus 4:12
E, depois que João foi entregue à prisão, veio Jesus para a
Galiléia, pregando o evangelho do reino de Deus,
Marcos 1:14
Marcos 1:14
e a atividade de Jesus estende-se apenas por um
ano. Jesus participa apenas de uma Festa da páscoa, a derradeira, onde tem
lugar os acontecimentos do julgamento morte e ressurreição.
João tem outro roteiro para Jesus. Ele inicia a
atividade mesmo antes da prisão de João Batista. A vida pública de Jesus tem um
espaço de 3 anos e Jesus participa de três festas da Páscoa
E estava próxima a páscoa dos judeus, e Jesus subiu a
Jerusalém.
E achou no templo os que vendiam bois, e ovelhas, e pombos, e os cambiadores assentados.
E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as mesas;
E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda.
E os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devorou.
Responderam, pois, os judeus, e disseram-lhe: Que sinal nos mostras para fazeres isto?
Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei.
Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias?
Mas ele falava do templo do seu corpo.
Quando, pois, ressuscitou dentre os mortos, os seus discípulos lembraram-se de que lhes dissera isto; e creram na Escritura, e na palavra que Jesus tinha dito.
E, estando ele em Jerusalém pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome.
João 2:13-23
E achou no templo os que vendiam bois, e ovelhas, e pombos, e os cambiadores assentados.
E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as mesas;
E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda.
E os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devorou.
Responderam, pois, os judeus, e disseram-lhe: Que sinal nos mostras para fazeres isto?
Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei.
Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias?
Mas ele falava do templo do seu corpo.
Quando, pois, ressuscitou dentre os mortos, os seus discípulos lembraram-se de que lhes dissera isto; e creram na Escritura, e na palavra que Jesus tinha dito.
E, estando ele em Jerusalém pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome.
João 2:13-23
E a páscoa, a festa dos judeus, estava próxima.
João 6:4
João 6:4
Foi, pois, Jesus seis dias antes da páscoa a betânia, onde
estava Lázaro, o que falecera, e a quem ressuscitara dentre os mortos.
João 12:1
João 12:1
3 -
Diferenças nos Milagres:
Em João diferentemente dos sinóticos ele narra um
conjunto de sete milagres assim distribuídos
1. – Transformação da água em vinho em Caná da
Galiléia
2. – Cura do servo do centurião em Cafarnaum
3. – A multiplicação dos Pães e dos peixes as
margens do mar da Galiléa
4. – Jesus caminha sobre a água, no mar da Galiléia
5. – Jesus cura um homem enfermo há 38 anos,
piscina de Betesda em Jerusalém
6. – Cura do cego de nascença em Jerusalém
7. – A ressurreição de Lázaro em Betânia, saída de
Jerusalém
Finaliza com a pesca milagrosa depois da
ressurreição.
O objetivo do evangelista João não foi tratar Jesus
como um grande milagreiro, mas acima de tudo como o Senhor e Salvador, o
Messias esperado.
Os sinóticos por sua vez querem mostrar um Jesus
poderoso em obras. Através dele o reino de Deus já estava presente no meio dos
homens
4 -
Diferença nos Detalhes:
João escrevendo seu evangelho aos gentios nos
oferece importantes detalhes que ampliam em muito as narrativas dos sinóticos.
- O encontro de Jesus com os primeiros discípulos,
João e André, Pedro e Felipe de Betsaída, é na abertura de seu evangelho, quando
do Seu batizado por João Batista às margens do rio Jordão;
- Entra no Templo no início do ministério expulsa
os cambistas e mercadores, diferente dos sinóticos que colocam esta cena no
final do ministério;
- No quarto evangelho é mais acentuada a incompreensão
de Jesus e de sua mãe Maria, pelos ouvintes,
- Só o quarto evangelho apresenta a parte humana de
Jesus, Ele com Maria chora a morte de Lázaro em Betânia.
- É o evangelho de João que apresenta os últimos
passos de Jesus começando com a última ceia no cenáculo, os derradeiros
momentos de Jesus, suas últimas palavras e recomendações, o lava-pés, e a cena
com Judas Iscariotes.
- Em João aparece um Jesus muito próximo dos
discípulos.
João nos convida a adentrarmos no Cenáculo e nos
tornamos participantes dos últimos momentos de Jesus com seus discípulos, Suas
últimas palavras, recomendações e oração, sua ação ilustrativa ao lavar os pés
dos discípulos e a confrontação final com Judas Iscariotes. Nem um dos outros
evangelistas nos trouxeram tantos detalhes da intimidade de Jesus com os
discípulos, como João faz.
5 -
Diferenças no Ritmo da atividade de Jesus:
Nos sinóticos temos a impressão que Jesus tem pouco
tempo, está sempre em atividade.
João ao contrário, O SENHOR JESUS encontra tempo
para seus discípulos para conversar e dialogar, aparecem longos diálogos: por
exemplo diálogo com Nicodemos, a mulher samaritana.
No cerne da narrativa Joanina está constituído
pelos debates e momentos de ensino de Jesus aos discípulos e aqueles que ouviam
falar de sua pessoa e missão. Os debates eram demonstrados em atos. O milagre
da multiplicação dos pães identifica Jesus como sendo Ele mesmo o verdadeiro
Pão da Vida.
6 -
Diferenças nos Relatos:
Diferentemente dos sinóticos João não narra o
nascimento de Jesus, seu Batismo por João no Jordão, as tentações antes do
início do ministério, não narra a Instituição da Ceia de Jesus como memorial da
morte e Ressurreição de Jesus, ou da agonia de Jesus no Getsemani nem do
julgamento do Sinédrio.
Olhando os milagres que aparecem em João apenas 3
coincidem com os sinóticos: a cura do filho do Centurião, a multiplicação dos
pães, o andar sobre as águas.
Nos milagres a diferença aparece no significado que
eles possuem: Nos sinóticos Jesus realiza os milagres movido de compaixão em
João os milagres adquirem um caráter de sinais, manifestando a glória de Jesus.
7 -
Diferenças na Ênfase Teológica:
O Evangelho de João está simbolizado por uma águia
que voa nas alturas, seus temas dão respostas ao mundo filosófico do helenismo:
Ele fala de luz e das trevas, do amor e do ódio, de verdade e da mentira, da
vida eterna, da glória, do testemunho etc. Ao contrário dos sinóticos que
anunciam a chegada do Reino de Deus.
João falando ao mundo dos gentios ignora toda a
discussão do judaísmo e das leis mosaicos: como o uso do dinheiro, o divórcio,
o adultério, o perdão aos inimigos etc.
Ainda encontramos ligada a Teologia diferenças na
Cristologia:
Os sinóticos apresentam um Jesus como sendo o Filho
do Homem, o maior de todos os Profetas, Salvador, Messias esperado e anunciado
no Antigo Testamento...
João mostra um Jesus que vem da parte de Deus para
revelar a plenitude Divina, e que ele sendo filho de Deus tem condições de
realizar esta missão.
8 –
Diferenças de vocabulário
No vocabulário utilizado no texto conhecermos a
mente do autor. Os sinóticos utilizam um vocabulário diverso de João se atendo
mais a palavras comuns no linguajar popular de Israel. João escrevendo para os
gentios caracteriza seu vocabulário, com uma terminologia usada com raridade
nos escritos sinóticos.
Concluindo:
De forma resumida estão elencadas algumas
diferenças que pode se encontrar nas narrativas dos evangelhos sinóticos e do
evangelho de João. Conhecer estas informações poderão ajudar a compreensão do
texto dos evangelhos e chegar mais perto da mensagem de Jesus.